Temos de continuar estudando e sempre tentando nos atualizar sobre novas descobertas e caminhos
Tenho a impressão de que a maioria das pessoas que trabalha em áreas relativas à tecnologia encontrou, no começo de suas carreiras, uma dificuldade enorme em explicar o que faziam para seus pais ou parentes. Era tudo mato quando, de um dia para outro, deixei de ser designer para ser “webdesigner”. Lembro bem que nem amigos próximos, na época (meados dos anos 1990), sabiam dizer exatamente o que eu estava fazendo. Pra ser sincero, nem eu mesmo. Tive de me atualizar muito rápido, estudar tudo o que via pela frente e enfrentar uma escassez de informações assustadora.
Mas seguimos, e hoje… ainda é assim. Temos de continuar estudando e sempre tentando nos atualizar sobre novas descobertas e caminhos que nos são expostos diariamente — com a diferença de que, agora, com um universo de informações e tecnologias quase infinito.
Porém, em uma coisa a minha mãe, mesmo sem saber, estava corretíssima. Quando perguntada sobre o que eu fazia, ela titubeava um pouco, mas logo respondia com orgulho: internet. Ela sempre dizia que eu fazia internet. Não é incrível? Eu, sem entender a magnitude dessa afirmação, tentava explicar que não fazia a internet. Isso era uma grande rede de computadores, conectados pelo mundo todo. E o que eu fazia eram sites, banners e assim por diante. Mas não adiantava.
No entanto, pensando aqui com meus botões e, também, em tanto esforço de pesquisadores e programadores, a inteligência artificial — já com milhões de exemplos práticos de aplicabilidade — deixa não só a internet, como todo um ecossistema digital com “a nossa cara”. E isso já há muito tempo.
Mesmo não sendo ainda tão inteligentes, quem nunca se surpreendeu com uma banda nova no Spotify ou achou aquele filme premiado nas listas do Netflix? Certo também que já xinguei muito a Siri por não me ajudar em vários momentos. Mas o desenvolvimento está aceleradíssimo, assim como seus investimentos. A internet das coisas é um exemplo disso. Muito se fala e já se consomem relógios, óculos e aparelhos de casa com o propósito de se conectar com nossas vidas.
Muito discutido no SXSW no último ano, o “you of things” — que traz o nosso corpo como informação para o gadget ir aprendendo — já tem seus produtos muito próximos das nossas vidas. Exemplos disso são os colchões que mantêm a temperatura corporal a noite toda para um sono melhor e berços que entendem quando precisam balançar, de acordo com os movimentos do bebê.
Um artigo do periódico The Shift mostrou que a IA neuro-simbólica já é uma realidade também. E acadêmicos de MIT, IBM e Harvard estão liderando essa pesquisa. “Para muitos cientistas de dados, o caminho para isso é investir na IA neuro-simbólica. Que, em linhas gerais, visa aumentar (e reter) os pontos fortes da IA estatística (do machine e do deep learning) com as capacidades complementares da IA simbólica ou clássica (conhecimento e raciocínio)”, informa o texto.
Isso quer dizer que entraremos em uma era em que os dados serão analisados de uma forma tão inteligente que muitas das nossas decisões poderão ser tomadas com mais acuracidade. Há até uma tentativa da Unesco de estabelecer o desenvolvimento ético da tecnologia, tendo já recebido o apoio de 193 países (incluindo China e Rússia). A iniciativa defende que o “IA promova os direitos humanos e contribua para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, abordando questões em torno da transparência, responsabilidade e privacidade, com capítulos voltados para ações sobre governança de dados, educação, cultura, trabalho, saúde e economia.”
Tudo o que estamos produzindo de dados será, um dia, usado para nos ajudar — e ajudar muitas empresas — a entender como nos comportamos e o que queremos, de verdade. Pode parecer um pouco assustador quando colocamos assim, mas tenho certeza de que tudo isso irá facilitar nossas vidas e trazer mais benefícios do que os problemas que enfrentamos hoje. Ainda temos um longo caminho pela frente para que isso aconteça. E claro: a intervenção humana, em muitos aspectos, nunca deixará de existir.
Mas, assim: minha saudosa mãe não estava certa? Não somos nós que sempre fizemos a internet? E vamos continuar sendo os protagonistas de todas as grandes revoluções tecnológicas que virão. Afinal, nossas necessidades sempre serão o drive de inovação, quaisquer que sejam elas.
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